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"Em Novembro, Carioca vai conhecer o Museu de Arte do Rio"

Published28 Aug 2012

Tags rio de janeiro MAR museu de arte do rio

RIO — A poeira das obras no entorno e os tapumes atrapalham, mas quem passa pela região do Porto já consegue vislumbrar como ficará o Museu de Arte do Rio (MAR), que será inaugurado em novembro, provavelmente no dia 15. A fachada em estilo eclético do Palacete Dom João VI, construído no início do século passado, já está completamente recuperada e, no interior do imóvel, 270 operários dão os últimos retoques. Repórteres do GLOBO percorreram o espaço, na última terça-feira, e conheceram algumas das mudanças: divisórias internas foram derrubadas e deram lugar a oito grandes salões para exposições. Um elevador antigo, de portas pantográficas, foi mantido, e uma cúpula, isolada por uma laje, foi reintegrada ao prédio. O museu será ligado por uma passarela e por uma cobertura de concreto ondulado, de 1.500 metros quadrados, ao prédio vizinho, onde funcionará a Escola do Olhar, o lado educativo do MAR. Se depender da beleza arquitetônica da mais nova instituição cultural do Rio, a organização social que vai administrar o espaço não terá dificuldades para cumprir a meta estipulada pela prefeitura, de 200 mil visitantes por ano.

Para ler a notícia completa basta ir aqui.

Coleção Itaú de Fotografia Brasileira

Published30 May 2012

Tags brasil rio de janeiro fotografia

Exposição no Paço Imperial apresenta obras realizadas nos últimos 60 anos.

O Itaú Unibanco, o Itaú Cultural e o Paço Imperial apresentam, a partir de 1º de junho, a exposição Coleção Itaú de Fotografia Brasileira. Com curadoria de Eder Chiodetto, a mostra exibe obras pertencentes ao Acervo Banco Itaú.


Criado há quase um século pelos fundadores do Banco Itaú S.A., o acervo conta hoje com 12 mil obras, entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, instalações e peças das coleções Itaú Numismática e Brasiliana Itaú. Esse importante conjunto, que é gerenciado pelo Itaú Cultural, cobre toda a história da arte brasileira, com peças referenciais de cada movimento e estilo.


“Nesta mostra, um recorte da Coleção Itaú de Fotografia com obras realizadas nos últimos 60 anos, optou-se por reunir as obras experimentais dos fotoclubes com trabalhos contemporâneos, estabelecendo um espelhamento lúdico. Relações formais, mas sobretudo uma semelhante atitude libertária diante da representação fotográfica, ecoam entre os dois tempos. Salienta-se assim que a evolução de uma linguagem não se dá de forma linear, mas em vertiginosas espirais desenhadas pelo tempo e pela cultura”, afirma Eder Chiodetto.


A exposição é fruto de uma parceria entre o Itaú Cultural e o Paço Imperial, que já proporcionou a realização de inúmeras exposições, graças ao alinhamento da missão das instituições ao fomentar e difundir o cenário artístico nacional.


Coleção Itaú de Fotografia Brasileira

sexta 1º de junho a domingo 5 de agosto

terça a domingo 12h às 18h



in Iatú Cultural

Gilberto Velho (1945–2012): na selva das cidades, no Brasil como em Portugal

Published14 May 2012

Tags brasil cidades urbanismo rio de janeiro

No fim dos anos 60, o antropólogo Gilberto Velho foi morar em Copacabana, num daqueles prédios de pequenos apartamentos que serviam as levas recém-chegadas à cidade. Copa, como lhe chamam os cariocas, foi a sua casa e o seu objecto de estudo durante dois anos, e isto resultou num livro chamado “A Utopia Urbana”, publicado em 1973. Para várias gerações de brasileiros e portugueses marcou a descoberta de que a antropologia podia ser também aquilo, a selva da cidade em vez do exótico da selva. E é assim, como um desbravador da vida urbana, e da autonomia dos indivíduos no meio da vida urbana, que várias gerações dos dois lados do Atlântico têm evocado Gilberto Velho desde a sua morte, dia 14, na sequência de um AVC, no Rio de Janeiro. Tinha 66 anos e sofria de problemas cardíacos.

Herdeiro dos investigadores americanos que se debruçaram sobre a cidade, não se limitou a transpôr essa herança para o Brasil. Abriu a universidade a todos os campos possíveis. “A partir dele é que se estudaram prostitutas, militares, bailes funk, astrologia ou políticos”, diz Karina Kuschnir, 44 anos, uma das suas mais próximas discípulas, e autora da fotografia que aqui publicamos, tirada nos jardins do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição onde Gilberto Velho trabalhou durante décadas.

“Não só é o fundador da Antropologia Urbana no Brasil como é talvez a voz mais importante da Antropologia Urbana em língua portuguesa, o seu expoente máximo”, resume Graça Índias Cordeiro, 51 anos, professora no ISCTE, em Lisboa. “Foi o fomentador de uma rede de relações entre Portugal e Brasil ao longo de várias gerações.”

A tal ponto que Graça fala em orfandade, lembrando como Gilberto Velho dava aos amigos o melhor que tinha: “Uma inteligência brilhante, uma perspicácia e exigência penetrante, um sentido de humor implacável, uma sensibilidade muito fina e subtil feita de imensa sabedoria e experiência. Todos os que estávamos mais próximos dele nos sentimos verdadeiramente orfãos, neste momento.”

Numa longa entrevista de vida conduzida por investigadores brasileiros e portugueses (http://cpdoc.fgv.br/cientistassociais/gilbertovelho), Gilberto Velho fala do avô paterno transmontano e da emoção que viveu ao avistar finalmente o castelo de Bragança. Isto para explicar a origem da sua relação com Portugal.

Cronista semanal do “Globo”, Hermano Vianna conta na sua última coluna como Velho “procurava o complexo onde menos se esperava”, do prédio em Copa aos consumidores de droga da classe média. “Foi esse olhar atento para o não convencional que me levou a fazer antropologia”, escreve Vianna, que se doutorou com uma tese sobre funk em 1986, quando o funk era uma aberração para a classe média brasileira. Velho ligava de manhã cedo a ver se os orientandos estavam a trabalhar. “Mas seu controle era paradoxal: no lugar de buscar resultados previsíveis, a disciplina deveria produzir o inesperado.” E acompanhou o então doutorando a bailes funk.

O inesperado também se aplicava aos jantares que Velho organizava, lembra Vianna, onde nunca estavam os convidados que ele dizia. Mas um dia prometeu investigadoras portuguesas de rap e Vianna conheceu mesmo investigadoras portuguesas de rap, conta no “Globo”.

Uma delas foi a antropóloga Teresa Fradique, 40 anos, e Gilberto Vellho acabou por prefaciar a sua tese. “Deu aulas no mestrado que eu fazia e veio do Brasil para fazer a arguição da tese. Iniciou-se aí um diálogo interessantíssimo. Ele tinha uma visão muito aberta e criativa, fez as interpelações correctas. Tinha a capacidade de ver no espaço mais vasto e fragmentado os processos culturais que a antropologia aplica a territórios circunscritos e exóticos.”

Teresa também recorda um controle rigoroso dos orientandos. “O choque que tive quando tentei negociar o prazo de entrega de um artigo e ele foi peremptório! Fiquei espantadíssima. Mas assim que recebeu o artigo foi incrível na resposta. Era leonino no acompanhamento, na vontade que as pessoas cumprissem um programa para depois haver espaço para um debate mais profundo.”

 

Inédito para Portugal

 

A antropóloga portuguesa Cristiana Bastos, que viveu no Rio de Janeiro e mantém laços fortes com investigadores brasileiros, recorda o “humor embutido” que encontrou em “A Utopia Urbana”, ao vaguear nas livrarias aí por 1980.

“O que li nessa altura ficou-me guardado e sai de vez em quando no modo como trabalho, como me atiro a coisas menos convencionais sem medo. Alguém me inspirou, deu o tom, e eu continuei a música. Anos mais tarde conheci-o em pessoa, quando fiz um estágio no Museu Nacional. Continuava criativo, estimulante, original, e ficámos muito amigos. Tinha uma relação muito interessante com os alunos e colegas, parecia que estava sempre a gozar mas ia instigando a que criássemos coisas novas, e levava-as a sério, publicava livros compilando capítulos de trabalhos dos alunos.”

“Como professor era inigualável, tinha um carisma e uma capacidade de comunicação oral única”, lembra Karina Kuschnir, que o conheceu quando era mestranda em 1991, e depois se tornou sua assistente. E como autor, os seus livros — além de “A Utopia Urbana”, por exemplo “Desvio e Divergência”, “Individualismo e Cultura” ou “Nobres & Anjos”, sobre a elite carioca consumidora de droga — contam várias edições, “são intensamente lidos”.

Portugal “estava incluído no horizonte dele de forma natural”, diz Karina. “Acho que ele não via isso compartimentado.” O derradeiro exemplo é que o último trabalho de Gilberto Velho vai ter a sua primeira publicação no próximo número da revista “Sociologia, Problemas e Práticas”, editada pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

“Foi ele que teve a iniciativa de escrever este artigo e propor a sua publicação, o que aceitámos, evidentemente, com o maior gosto”, explica o sociólogo António Firmino da Costa. “O texto é sobre as empregadas domésticas no Brasil. Nele Gilberto Velho aborda, da maneira profundamente inteligente e sensível que caracteriza a sua obra, comportamentos humanos e relações sociais, interligando a vida das pessoas e as formas de sociedade. É um texto, ao mesmo tempo, muito pessoal e lucidamente analítico, mais um contributo especialíssimo do autor para o conhecimento do universo social em que vivemos, dos seus vários mundos e das pessoas que transitam neles e entre eles.” Poderá ser lido “dentro em breve, logo que o processo de composição e impressão fique concluído”.

Professor do Museu Nacional, onde trabalhou ao lado de Gilberto Velho, e Vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Luiz Fernando Dias Duarte conhece bem o manuscrito. “Estava dirigido ao público português. E tratava de examinar uma dimensão muito interessante da relação entre patrões e empregados domésticos, o que permitia fazer um exame da relação de classes.”

Quem conheça a sociedade brasaileira sabe como essas relações são vividas de uma forma extra-hierarquizada que já não é comum na Europa. Mas Gilberto Velho vai além do aspecto clássico da dominação. “Ele usa a experiência com a sua empregada de várias décadas, a Dejanira, a quem ele chamava Deja. O artigo está dedicado a ela. Estava já aposentada e ele fala do que significou a perda da relação com ela. Todos nós [colegas de Gilberto no Rio] a conhecemos muito bem. Uma empregada doméstica tem um projecto de vida diferente de um professor universitário, mas há espaço para uma mediação. Não se trata de dourar a pílula das relações mas de compreender a sua complexidade.”

Tendo sido um dos primeiros professores de Luiz Duarte, Gilberto Velho influenciou as suas teses de mestrado e doutoramento, sobre classes populares. “Ele era mais um especialista em classes médias, mas tudo isto tinha a ver com a construção social da pessoa, a ideologia do individualismo. Depois fomos colegas 30 anos em salas vizinhas e ele estava muito presente na vida de todos os orientandos e amigos, um esteio constante nos problemas académicos, de família, de saúde.”

Partilharam, por exemplo, a participação na reforma psiquiátrica brasileira. “Tratava-se de denunciar as formas autoritárias de lidar com o fenómeno da perturbação mental, de preservar a capacidade de acção dos sujeitos. A questão da autonomia, da liberdade, era muito importante para o Gilberto. Então temas como drogas, violência ou doença mental eram muito importantes para ele. A Antropologia Urbana é indissociável do Gilberto, mas a questão dos projectos de vida, da complexidade da vida social e das mediações são mais importantes que o facto dele ter criado uma área”.

Num texto de homenagem escrito no dia a seguir à sua morte, a portuguesa Graça Cordeiro resumiu assim o legado de Gilberto Velho do ponto de vista de quem trabalhou com ele: “Aulas, seminários, conferências, lançamentos de livros, projectos de investigação, jantares, conversas, passeios, excursões; onde já não se sabia quem era o historiador, o sociólogo, o antropólogo, o arquitecto, num confortável e bem-humorado diálogo em que todos eram pares.”

Ponte entre Portugal e Brasil será isto.

 

Alexandra Lucas Coelho, Público, 27–4-2012

14º Salão do Livro Infantil e Juvenil do Rio de Janeiro

Published19 Apr 2012

Tags rio de janeiro livros

Um dos dados que mais assustaram quando a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil foi apresentada em março diz respeito ao uso que a população faz das bibliotecas. Ou melhor, ao não uso. Só 7% dos brasileiros vão com frequência a uma e a maioria, 20%, respondeu que iria se houvesse mais livros novos. O problema, no entanto, não é novo e desde que criou o Salão do Livro para Criança e Jovem, há 14 anos, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) vem tentando dar a sua contribuição para que as escolas renovem os acervos. Assim, já estariam a meio caminho andado da formação de leitores, o objetivo maior da feira.

Por isso, quem ganha incentivo da prefeitura carioca para comprar livros nas edições anuais do evento - a de 2012 começa nesta quarta no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio -, são as escolas.

Continuar a ler no Estado de São Paulo.

Setenta e oito editoras divididas em 85 estandes. Presença de 200 artistas, entre escritores e ilustradores. A 14ª edição do Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens começa nesta quarta (18) e espera um público de 50 mil pessoas. Este ano, o evento homenageia o escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, autor de oito livros, entre eles, A árvore (Editora Paulinas), Anacleto (Editora Larousse), Sem Palmeira ou Sabiá (Editora Peirópolis) e História em 3 Atos (Editora Global), que morreu em janeiro. Além de, como em todas as outras edições, ter um país homenageado. O escolhido deste ano é o México 

Durante os 12 dias do evento, o público de crianças e jovens terá a chance de participar de bate-papos com os principais escritores e ilustradores do país, de acompanhar a leitura de histórias e assistir a seminários. Como já faz parte da tradição, terão quatro bibliotecas separadas por faixa etária (bebês, crianças, jovens e educadores). Nelas, são realizados encontros com os autores e leituras mediadas pelos monitores, mas também é possível ficar ali lendo, folheando os livros e brincando com as obras. Como todos os anos, as crianças ganham um livro ao visitar a feira.

Continuar a ler n'O Globo.

"Gritomudonomuro"

Published19 Mar 2012

Tags arte pública rio de janeiro

O embate de dois matemáticos com as confissões cifradas e eróticas que uma artista plástica espalhou pelas ruas do Rio.

Um trecho da mureta da via expressa que liga a Zona Sul do Rio de Janeiro à Barra da Tijuca apareceu coberto de inscrições ilegíveis numa manhã do ano passado. Era uma sequência de símbolos, pintados em tinta branca, que ocupava toda a altura do pequeno muro. Estendia-se por mais de 100 metros e tinha quase 400 sinais compridos e estreitos. Vários deles eram repetidos, o que sugeria tratar-se de um alfabeto. As letras tinham ângulos retos e poucas curvas. Algumas lembravam a escrita latina – era possível identificar um I, um X, um Y espelhado, um U de ponta-cabeça. Não havia espaço que delimitasse as palavras. Se aquilo fosse mesmo uma mensagem, era incompreensível.

Inscrições semelhantes haviam sido deixadas em muros e viadutos da Gávea, da Lagoa, do Leblon e bairros adjacentes. Há mensagens escritas no alfabeto enigmático num acesso ao túnel Rebouças, no muro de uma escola e na frente do Jardim Botânico. A meio caminho entre o grafite e a pichação, os escritos costumam ficar na parte de cima de muros altos e outros lugares improváveis. Com frequência, são associados a uma figura humana longilínea e estilizada, com os braços e pernas finos e as costelas realçadas.

A autoria das inscrições foi reivindicada pela primeira vez no início de 2011. Numa reportagem da revista dominical d’O Globo, a artista plástica carioca Joana César contou que era ela quem espalhava as mensagens pela cidade. Estavam escritas num código que criara mais de uma década antes, para preservar seus segredos de pré-adolescente, que anotava numa agenda. Acrescentou uma revelação apimentada: algumas inscrições contavam suas fantasias eróticas. Sem saber, os cariocas conviviam havia anos com relatos íntimos, escritos em letras garrafais na cara de todos.

Continuar a ler na Piauí.

"Slum Dwellers Are Defying Brazil’s Grand Design for Olympics"

Published13 Mar 2012

Tags brasil cidades rio de janeiro

RIO DE JANEIRO — It was supposed to be a triumphant moment for Brazil.

Gearing up for the 2016 Olympic Games to be held here, officials celebrated plans for a futuristic “Olympic Park,” replete with a waterside park and athlete villages, promoting it as “a new piece of the city.”

There was just one problem: the 4,000 people who already live in that part of Rio de Janeiro, in a decades-old squatter settlement that the city wants to tear down. Refusing to go quietly and taking their fight to the courts and the streets, they have been a thorn in the side of the government for months.

Continuar a ler no New York Times.

Parte do Rio tenta tocar sua rotina no domingo decisivo

Published29 Nov 2010

Tags américa do sul brasil rio de janeiro

Miriam Leitão, na edição online do Jornal Globo de 28 de Novembro

Na orla da Zona Sul  tudo parece quase normal. É o que verifiquei na minha caminhada por Leblon, Ipanema, Copacabana num domingo que começou com sol, às vezes nubla, depois o sol volta. O assunto das atenções é um só: o Alemão.

Ontem fui dormir quando já era hoje. A uma da manhã. Os meninos do @vozdacomunidade avisavam no tuiter que se ouvia no Alemão " muitoooo tiro". Acordei às seis. No Globo Online e no Voz a informação era que a invasão não tinha começado. Demorei um pouco a sair de casa, mas às sete e meia já estava na praia, naquele comecinho do Leblon onde está a estátua do Zózimo. Saudade do Zózimo. "Nada mais será surpresa para esta coluna", pensei, lembrando dele.

Mas havia uma surpresa. Pensei que a praia estaria vazia e estava na maior agitação com um grupo de corredores preparados, de camiseta igual e aquela estrutura dos eventos esportivos. Agrupavam-se, aqueciam-se, animavam-se sob o comando do som. Resolvi ouvir minha música, escolhi internacional.

O dia está lindo, aberto, mar azul. Passei por uma criança branca com sua babá negra. Depois por uma criança e mãe negras. Perto da água vi pouca gente ainda, brancos e negros se misturando. Mas há muito perdi a ingenuidade e sei das partições dessa suposta democracia das praias.

Na orla caminho passando pelos corredores a minutos da largada. Sempre quis correr. Não sei. Ando rápido, apenas. Cruzo com uma moça simpática que me diz coisas de aquecer o coração sobre o meu trabalho, ando mais rápida, animada. O lixeiro me dá um sorriso de alegrar ainda mais a vida. Retribuo.

A largada começa. Eu ando rápida na parte da calçada onde ficam os andadores, crianças com suas babás, velhinhos com suas artrites, turistas e apenas caminhadores como eu. Os corredores ficam na pista que nos dias normais é dos carros. As bicicletas dividem a pista delas com os skates. Tudo normal demais para um dia tão anormal. "Nos vamos estar sempre juntos" canta a música no meu ouvido.

Tem um pouco menos de gente do que o normal, mas os corredores tratam de suprir a falta dos faltantes. E são tantos, aglomerados ali no caminho do Arpoador que desisto de ir até o fim. Viro, atravesso, passo perto do Fasano, e entro pela rua lateral no caminho de Copacabana. Na esquina entre Joaquim Nabuco e Nossa Senhora de Copacabana uma aglomeração olha fixo para dentro de uma farmácia. É a TV ligada na Globonews contando que tudo pode começar a qualquer momento. Vou para a Avenida Artlântica retomar a caminhada. Esbarro sem querer num velhinho atravessando a rua, peço desculpas. E retorno recebo um carinho no braço e um sorriso encantadores Na orla mais corredores. Eles nunca se cansam?  Resolvo ficar do lado de cá a avenida, na calçada dos prédios.

-Bom Dia! Diz enfático um porteiro do prédio

Velhos sentam nos bancos, bebês e babás passam. Jovens desfilam sua beleza a caminho do mar. Eu apresso o passo para compensar o cuidado nas travessias das ruas, Na Figueiredo de Magalhães, quase perto do Posto 3, decido entrar em Copabana atrás de um taxi. Outro grupo em frente a um bar, um já com cerveja pouco antes das nove. Todos olhos vidrados para dentro do bar: na TV a manchete: Começou a invasão do Alemão.

Peguei o terceiro taxi que passou. Sorte. Ele estava com a TV ligada na Globo, Márcio Gomes dando as últimas notícias e o motorista completa.

-Lá tá muito cheio de gente, mas as ruas estão mais vazias do que o normal.

- Mas voce tem ido "lá"?

-Estou lá o tempo todo. Estou com um grupo de jornalistas de Porto Alegre, da Zero Hora. Ontem fiquei lá o dia inteiro. O que a imprensa chama de tiroteio, eu chamo de tiro a esmo. Quando o helicóptero passa eles atiram. A comunidade está muito tensa. Com medo né? Natural. Eu deixei os jornalistas lá cedinho. Agora vim aqui para comprar um remédio para minha esposa e voltar para lá. Só te peguei porque a farmácia abre `as dez. A gente tem esperança, mas é difícil. Muito cheio de ruela lá, os bandidos é que conhecem o terreno.

Pergunto que se ele já viveu algum episódio de violência. Levou tiros há quatro anos. Estava conversando com policiais e bandidos passaram atirando. Ele recebeu um na tíbia, outro no abdomen. Mas se salvou.

-Não fiquei com sequelas, mas as cicatrizes são feias. Chato, por que eu não tinha marca nenhuma.

 O telefone dele toca. Mais um do grupo do Zero Hora que não tinha ido e quer ir para o Alemão, ele conta.

Ruas mais vazias na subida da Gávea. Chego em casa, abro o computador no Globo e a notícia é que a Polícia tomou o Alemão.

Na sexta feira passei pelo maior sufoco no aeroporto de Belo Horizonte tentando voltar para o Rio. Voo cancelado, depois tempo fechado e por cinco horas lutei para chegar. Quando desembarquei tuitei:

_Cheguei ao Rio, ufa!

Foi um tal de gente curtir com a minha cara: "Devia dizer, saí do Rio, ufa!" ou "Saia enquanto é tempo". Um pergunta por que moro aqui.

Os tuites me surpreenderam. Ora, por que moro aqui? Bom, não me passa pela cabeça sair.

Fico por tudo isso que contei acima. Porque escolhi. Porque tudo aqui é intenso e familiar, bonito e aflitivo, complexo e promissor. 

Nina Simone no meu ouvido canta: "Oh senhor, não me deixe ser mal compreendida" (oh Lord, don't let me be misunderstood". É isso. A mensagem não tem como ser confundida: fico por amor, e amor não se discute, nem se explica.

Desta vez pode ser diferente: a cidade está ligada ao Alemão

Published29 Nov 2010

Tags américa do sul brasil rio de janeiro

Miriam Leitão, na edição online do Jornal Globo, de 27 de Novembro

Quem mora no Rio já viu várias vezes as autoridades dizendo que acabariam com o tráfico, ou o Exército sendo chamado e ocupando espaços, ou passeatas pedindo paz. Desta vez há várias coisas diferentes no ar. Vamos fazer um balanço aqui, até para fortalecer nossa esperança nesse momento difícil. Estamos mais conectados nesta cidade. Em todos os sentidos. A imprensa nunca chegou tão perto mostrando uma operação. Normalmente tudo se passava longe das câmeras e olhos dos repórteres. No fim a Polícia dava a versão dela que prevalecia. Depois um ou outro jornalista conseguia ouvir os moradores e as versões frequentemente eram diferentes. Desta vez a imprensa está lá. Pode ver, contar, e mostrar que é o nosso papel. O que possibilita isso em parte é o que veio acontecendo nos últimos anos no jornalismo e nas políticas públicas.

As UPPs quando libertam uma área da cidade abre alas para a imprensa. Até alguns anos atrás o jornalismo do Rio parecia cobrir bolhas, partes da cidade, em outras nem se entrava. Para entrar era preciso negociar com o tráfico. E isso era inaceitável. Outra forma era entrar com ONGs que trabalham nas favelas. Já fui a vários lugares com o Afroreggae e o Centro de Democratização da Informática. Hoje os jornalistas entram e saem de várias favelas ocupadas pelas UPPs. Isso ajuda a cobrir não apenas os momentos de tensão, mas o dia a dia, o cotidiano, a vida como ela é. E aí as favelas aparecem de forma diferente dos estigmas e estereótipos. A internet amplia enormemente a capacidade de comunicação e de ligação entre moradores de uma mesma cidade, dos bairros de classe média ou dos ricos, aos bairros chamados comunidades, onde ficam pobres .

Há iniciativas incríveis como a do jovem René que fez um jornalzinho no Alemão desde os 11 anos. Hoje ele tem 17 anos e o jornal tem 5.000 exemplares, tem anúncios do comércio local, ele é conhecido. O Voz da Comunidade é um sucesso impresso, na internet e agora no tuiter. O perfil @vozdacomunidade tinha ontem de manhã 180 seguidores, agora em que escrevo tem quase 2.000. Isso em um dia. O engraçado é que René @Rene_Silva_RJ que agora está com 3.000 seguidores diz no seu perfil que quer ser jornalista. Você já é menino, você já é. Continue mandando seus tuites, notas, fazendo seu jornal, e cresça. Sua torcida é grande, você construiu sua própria audiência.

Desta vez há mais apoio dos moradores à ação das forças de segurança. Tomara que dure e que a Polícia faça por merecer essa confiança. Há riscos, todos sabemos. Riscos de ser só mais um espetáculo, de que a parte podre da Polícia acabe tomando o terreno para si, outra chaga das várias que temos aqui no Rio. Riscos imensos de que um inocente seja atingido nessa guerra, por isso não basta superioridade numérica, equipamentos, união de forças, o estado precisa ter sempre estratégia e bom senso. Hoje há quem possa mediar. O Junior do AfroReggae não começou nisso ontem. Ele faz há anos negociação em áreas de conflitos. É experiente e respeitado. Foi chamado lá por traficantes, por moradores. Há mediadores treinados da própria Polícia. O que vai acontecer nas próximas horas no Alemão ninguém sabe. O local é imenso. Várias comunidades que foram crescendo e um dia se misturaram. Tempos atrás fui lá com os meninos do AfroReggae para fazer uma gravação. A ideia era o Junior ir para a redação do Globo e eu para o Alemão. Fizemos isso. Foi um dia em que aprendi muito andando, conversando, gravando em cima de uma laje onde se descortinava aquele mar de favelas. Vi jovens com fuzis, tão jovens, tão jovens! Subimos pelas ruelas, passei por local de vendas de drogas. E vi os trabalhadores indo para as obras do PAC. O poder público estava lá nas obras do PAC, mas não estava inteiro. Tanto que as obras de melhoria conviviam com o que não deveriam conviver. Hoje a Polícia e as Forças Armadas estão lá, nas bordas do imenso Complexo do Alemão. O que acontecerá esta noite? É um momento decisivo. Hoje a cidade está mais unida do que jamais esteve, pela internet, pelos avanços da política de segurança, pelos mesmos sonhos. Hoje todos os olhos - e nossos corações - estão no Alemão. O momento é dificil e riscos existem, mas nunca tivemos tanta esperança de que o país avance na direção que se quer: a de não haver territórios onde o poder público não possa entrar.

Cinco dias na favela

Published21 May 2010

Tags rio de janeiro

No site do Guardian, uma série de cinco episódios sobre a história da favela Complexo da Maré, no Rio de Janeiro:

Bem-vindos ao Complexo da Maré (17 de Maio) - primeira paragem.

Luta pela paz (18 de Maio) - o lutador de boxe Roberto Custodio, também conhecido como Polinho, ultrapassou a pobreza e o assassínio do pai, para se transformar num exemplo brilhante para a juventude da favela com aspirações olímpicas; 

O Samba é infinito (19 de Maio) - a favela é alimentada pelo ritmo da música tradicional. Os membros da banda de pagode local Grupo Fundamental apresentam-nos ao samba, ao baile funk e ao seu próprio pagode, sons que unem a comunidade;

Um dia de trabalho árduo (20 de Maio) - apesar da falta de oportunidades e de recursos, os esforçados e engenhosos habitantes da Favela Maré criaram micro-oportunidades de negócio e fazem florescer a economia local;

"Eu sei o que é roubar por causa da fome" (21 de Maio) -  neste último episódio, o pregador evangélico e DJ de rádio Pastor Nininho conta como encontrou a redenção de uma vida criminosa. Agora trabalha no Complexo da Maré com jovens, afastando-os das drogas e da violência.

João do Rio

 

João do Rio é pseudónimo de João Paulo Alberto Coelho Barreto (1881-1921) escritor carioca que cultivou a crónica jornalística do Brasil Republicano e, muito em especial, da então capital Rio de Janeiro. Em a Alma Encantadora das Ruas reunião de textos publicados na imprensa carioca entre 1904 e 1907 ele percorre as ruas do rio para reter a "cosmópolis num caleidoscópio". Esta selecção tem agora uma segunda edição muito cuidada e com um prefácio erudito como é - felizmente - comum nos textos do apresentador e organizador Raúl Antelo.

Três aspectos são notórios nestas crónicas: um grande amor à cidade que faz destas crónicas cartas de apreço à cidade e aos cidadãos de todas as classes sociais, um olhar atento aos detalhes , aos pormenores das ruas e das pessoas e que o autor diz traduzir a condição 'janeleira' do Rio - "O carioca vive à janela" -, e, finalmente o carácter de flânneur na mesma postura de Baudelaire o artista na cidade.

O conjunto dos textos começa pela afirmação "Eu amo a rua." E, depois seguem-se vinte e oito crónicas que tanto podem constituir uma visita panorâmica à cidade e à sua época como são de uma actualidade imprevista. O texto sobre tatuagens, a origem destas, as técnicas, a dimensão simbólica e as implicações do uso das mesmas na vida passional de quem as usa é um manual de utilização do tatoo nos dias de hoje.

João do Rio, A Alma encantadora das ruas, Organização de Raúl Antelo, Companhia de Bolso, São Paulo 2008