PORVENTURA, António Cicero
Published30 Oct 2012
António Cícero não publicava poesia há dez anos. O último livro chamava-se "A cidade e os Livros" (publicou ensaio entretanto). Acaba de sair um livro notável, "Porventura" é o título. Uma obra evocando permanentemente os autores clássicos helenistas e latinos que ele tão bem conhece e manuseia com a sabedoria de quem tem estes autores como seus convivas.
Dois exemplos:
Desejo
Só o desejo não passa
e só deseja o que passa
e passo meu tempo inteiro
enfrentando um só problema.
ao menos no meu poema
agarrar o passageiro
Diamante
O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra; diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita , e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.
[mais António Cícero, aqui]