Hélia Correia e a língua portuguesa
Published15 Jul 2015
Imagem: Gonçalo Rosa da Silva
A escritora portuguesa Hélia Correia foi recentemente distinguida com o Prémio Camões, sucedendo ao brasileiro Alberto Costa e Silva. Autora de romances, contos, peças de teatro e poesia, conta com uma obra extensa, entre a qual se destaca O Separar das Águas (1981), A Casa Eterna (2000), Adoecer (2010) e Vinte Degraus e Outros Contos (2014), publicados em Portugal pela Relógio d'Água. O prémio foi entregue dia 7 de Julho, ocasião em que a autora falou da importância da literatura e da diversidade da língua portuguesa.
Na ditadura da economia, a palavra é esmagada pelo número. A matemática, que começou nobre, aviltou-se, tornando-se lacaia. Se a literatura salva? Não, não salva. Mas se ela se extinguir, extingue-se tudo.
O nosso mundo de sobreviventes está seguro por laços muitos finos. Eu vejo os fios que unem os textos nas diversas versões do português, leves fios resistentes e aplicados a construirem uma teia que não rasgue. Quando o angolano Ondjaki dedica um poema ao brasileiro Manoel de Barros, quando Mia Couto reconhece a influência que teve Guimarães Rosa na sua escrita transfiguradora e transfigurada pelas africanas narrativas do seu povo; quando a portuguesa Maria Gabriela Llansol considera Lispector «uma irmã inteiramente dispersa no nevoeiro», vemos a língua portuguesa a ocupar - não como o invasor ocupa a terra, mas como o sangue ocupa o coração - um espaço livre, um sítio para viver, uma comunidade de diferenças elástica, simbiótica e altiva. Esta é a ditosa língua, minha amada.
O texto completo, em Ditosa lingua