Escrevo para continuar dançando
Published17 May 2012
Como bailarina, a escritora e crítica Inês Bogéa sempre foi além dos movimentos da dança. Ela criava um mundo imaginário sobre cada peça, envolvida pelas narrativas dos grandes balés. Esse interesse pelas aventuras e particularidades dos personagens a levou a escrever dois livros em que reconta histórias do balé clássico. O mais recente, Outros contos do balé, será lançado amanhã, 12/05, na Livraria da Vila (Fradique Coutinho), em São Paulo. Confira, a seguir, um bate-papo com a autora.
Sua vivência no balé teve início há mais de 30 anos, como bailarina clássica. Como você passou a escrever sobre dança, tendo sido crítica da Folha de S.Paulo por um longo período e autora de livros sobre o tema?
Minha história no balé começou de ponta cabeça, na ginástica olímpica, fazendo estrelas e outros tantos movimentos desse esporte, que tem muito de dança. Depois, passei para a capoeira e, numa das curvas da vida, triste por ter levado uma benção no peito numa das rodas, assisti, na TV, ao Lago dos Cisnes, no colo do meu pai. A sensação de ver as meninas flutuarem nas pontas e as imagens de múltiplas dançarinas de tutu me marcaram. Entrei para fazer balé clássico na academia da D. Lenira, em Vitória. Me formei na metodologia da Royal Academy of Dancing, em Londres. Em 1998, entrei para o Grupo Corpo, e nele fiquei por 12 anos. Viajamos o mundo dançando. Nesse tempo, tínhamos um grupo de estudos de dança. Um texto meu foi enviado para o editor da Ilustrada (Folha de S.Paulo), na época Sérgio Dávila, que me convidou para escrever no jornal. Quando chegou o meu tempo de parar de dançar, pesquisei a história do Grupo Corpo e organizei o livro Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo. Esse foi meu ritual de passagem para o outro lado da cena.
Como se dá esse processo de transformar em narrativa escrita histórias dançadas? Como bailarina, você procurava saber as histórias por trás dos movimentos?
Reconto as histórias a partir do movimento da dança; lembro no corpo as sensações e emoções dos personagens que dancei e vivo as histórias dos outros personagens para completar a narrativa. Ao dançar alguns dos grandes balés, procurava saber a história para conhecer mais e criar um mundo imaginário sobre cada dança.
Outros contos do balé é seu terceiro livro infantojuvenil [os dois primeiros são O livro da dança (Companhia das Letrinhas, 2002) e Contos do balé (Cosac Naify, 2007)]. Por que a escolha desse público leitor para suas narrativas sobre dança?
Meus livros são para crianças de todas as idades. São minhas lembranças do prazer de dançar e da alegria de me mover que me levam a criá-los. Escrevo para continuar dançando com leitores de diferentes idades.
Assim como em Contos do balé, em Outros contos do Balé você reconta cinco histórias de coreografias de dança clássica Como você chegou a essa seleção?
Assim como no primeiro livro, a ideia é contar balés de diferentes gêneros, tempos, acentos e cores da dança clássica. Em Outros Contos do Balé você pode ler A Sílfide, marco da dança romântica; O corsário, onde a tônica está na descoberta de terra distantes e exóticas; La Bayadère, inspirada na dança indiana; O Quebra-Nozes, um marco da dança clássica; e O Pássaro de Fogo, um balé clássico moderno. O novo livro dialoga com o primeiro e traz novas perspectivas, nas próprias histórias e nas notas informativas.
Você já dançou algumas das coreografias que compõem o livro? É possível eleger uma favorita?
Dancei A Sílfide, O Pássaro de Fogo e O Quebra-Nozes, em diferentes papeis de solista e de corpo de baile. De cada um, tenho uma história diferente para contar. O bom é estar em cena, dançando.
Neste livro, você apresenta aos leitores os profissionais que normalmente ficam nos bastidores de um espetáculo, mas que são igualmente importantes para sua realização. O que caracteriza, para você, uma montagem impecável?
Para que um espetáculo aconteça, todos têm que dançar juntos. Desde o tempo de abertura da cortina ao início do movimento do bailarino, em diálogo com a música, o figurino, a luz, a cenografia, até os detalhes técnicos – por exemplo, o fechamento da caixa preta, o tempo entre uma obra e outra, movimentos de cena –, tudo tem impacto na percepção do espectador. Uma montagem impecável deve apresentar qualidade em todos esses elementos.