"Tudo acontece no corpo"
Published2 Sep 2014
In-Organic. Imagem: Claudia Garcia
Puto Gallo Conquistador Imagem: Perro Rabioso
Tudo acontece no corpo
"O material do meu trabalho é o corpo. Penso o corpo como uma zona estranha, ambígua e crua. Este corpo é uma parte de ( e gera) uma situação especifica que se desenrola num periodo de tempo (pré)determinado", disse Marcela Levi numa entrevista. "O corpo torna-se o território da materialização de transformações sociais, históricas e também ferramenta para a formulação de alternativas para a vida contemporânea", escreveu Tamara Cubas em "Uma arte que se pensa na ação". Marcela (Brasil) e Tamara (Uruguai) são dois nome da dança contemporânea, da América do Sul, em destaque no Próximo Futuro (ambas a 5 e a 6 de Setembro na Gulbenkian, Marcela às 19h00, Tamara às 21h00). De forma genérica, partilham um universo fundado na pesquisa das potencialidades expressivas do corpo, um corpo pensante, que é matéria de formulação de olhares, critica e reflexão sobre o mundo em que vivemos e o contexto geopolítico particular a que pertencem. Marcela Levi é familiar ao público de dança português por ter integrado o elenco de duas criações de Vera Mantero. "In-Organic" (2007) é inspirada na história do Nordeste brasileiro, onde entram questões essenciais, como o casamento ou a morte. Em cena, utiliza 25 metros de colar de pérolas, uma cabeça de boi embalsamada, grampos de cabelo e um sinalizador de bicicletas. Tamara Cubas traz "Puto Gallo Conquistador" (2014). A peça questiona, a partir do imaginário coletivo, o passado e o processo colonial no Urugai, onde a população indígena e a sua lingua foram extintas. Numa história plena de lacunas (...) Tamara joga com essa história, preenchendo as suas lacunas, modificando e ficcionando sucessos, dando "cor" à precariedade que a história oficial relata. Procura narrativas a partir de um ponto de vista não ocidental, descolonizado e subalterno".
Cláudia Galhós, in Actual/Expresso 30 Agosto 2014