mais histórias de Paraty (V)
Published21 Jul 2011
Barco (Amor Eterno)
Joe Sacco - 2 livros lançados aqui: "Notas sobre Gaza" e "Palestina"
O fluxo das informações é controlado pelos oligopólios da imprensa, por isso ele opta por um jornalismo em quadrinhos. Passa um tempo nos lugares, Bósnia, Palestina, etc... convivendo com as pessoas. Faz os desenhos tempos depois, mais amadurecidos e já mais carregados de sentido.
Está preocupado com a realidade dos civis que são os que mais sofrem com a guerra. Suas vidas lhe são retiradas, um dia você tem um futuro no outro não mais.
Através dos quadrinhos ele acredita que pode trazer o leitor mais próximo daquela realidade. No desenho ele pode voltar ao passado, pode desenhar de perspectivas que às vezes nao é possivel na fotografia. Em locais muito tensos, onde é proibido fotografar, como check points, ele faz sketchs. Nos quadrinhos pode mostrar repetidamente um cenário ao fundo, enquanto na ação principal apresenta um diálogo dando uma outra dimensão mais dramática, o que não é possivel na escrita.
Ou ainda com múltiplas imagens pode ir para frente e para trás.
Uma outra coisa bem legal que ele falou, foi sobre a atividade de jornalista. O jornalismo é visto e ensinado com uma obsessão pela objetividade. Mas na realidade as coisas não são bem assim. As pessoas contam coisas que às vezes são contraditorias, existem vários pontos de vista e a memória engana. Ele mesmo como jornalista de outra cultura tem preconceitos, e tudo isso ele deixa a mostra, dando espaço para eventualmente ser confrontado pelas pessoas das quais ele fala.
O jornalismo e juntar informações não são uma ciência e ele quer mostrar essas contradições.
É autodidata no desenho e sua influência é Bruegel "The Elder". (Tem tudo a ver!)
Foi muito boa essa mesa!
Tenda dos Autores
João Ubaldo Ribeiro - 'alegorias da ilha brasil'
A palestra foi divertida, agradável, ele é incrivelmente bem humorado.
Entrevistado por Rodrigo Lacerda, sempre com uma pergunta sobre cada livro. As respostas sempre tinham muita história.
Aqui algumas respostas:
A primeira pergunta: Parece que Itaparica é o cenário dos livros. Seria uma metáfora do Brasil? Mas ele diz que não sabe, que acaba sendo assim. As ilhas são fictícias. Esse ambiente faz parte da sua formação, é o que conhece. Ele diz ter uma certa insegurança em escrever sobre o Rio. No final os textos saem com cara de Itaparica.
Não se preocupa com a veracidade mas com a verossimilhança. Não é realidade, mas invenção.
Em '63 quando publicou seu primeiro livro, se considerava engajado, político, que mudaria o destino da humanidade e iria ganhar o prémio Nobel... mas a vida não transcorreu assim... (Toda a conversa é falada com bom humor, cheia de risos... Aqui não vou conseguir expressar)
Diz que o escritor escolhe que tipo vai ser, a decisão é sempre de cada um.
Para o jovem que deseja ser escritor, é preciso ler muito, ser humilde, obstinado e o resto é um mistério. Sempre existe o imponderável para o êxito profissional, não há receita.
Sobre "Sargento Getúlio", fala ser esse o nome de um dos sargentos do pai, que era chefe de seguranca.
O livro foi comparado ao "Grande sertão veredas," porém ele não concorda. Diz que o seu santo não bate com o do Guimarães Rosa. Reconhece a importância dele na literatura, principalmente por que conhecia bem Graciliano Ramos e sabia do seu sofrimento em traduzir os diálogos do sertão numa prosa mais "culta" e Guimarães Rosa rompeu com isso.
Depois de um tempo e já com livros publicados, e: "sabendo que não ganharia o nobel," conta que as pessoas só falavam do Sargento Getúlio. Não queria ser reduzido a esse livro, e "Vencecavalo e o outro povo" título que ninguém nunca lembra, nem ele, partiu da vontade querer escrever: "o retorno do Sargento Getúlio," e queria (isso na gozação), escrever a volta, o filho, a cavalgada todas do Sargento Getúlio. Um desses títulos achou que poderia ser o título para o novo livro. Foi conversar com Jorge Amado que lhe deu um "esbregue"(bronca). Assim o livro de contos ficou com o título de um dos contos.... esse que ninguém nunca lembra.
"Vila Real" é um livro que ele adora, mas fica magoado que ninguém leu. Tem universo semelhante ao "Sargento Getúlio" com linguagem mais rebuscada.
Um dia implicaram que por aqui só se escreviam livros finos. E essa foi a génese do "Viva o povo brasileiro." Ele queria mesmo era escrever um livro grosso. Conta que não queria entregar os manuscritos de jeito nenhum, não queria mais parar de escrever e reescrever. De tão grande, chegou até a pesar a pilha dos originais. Ainda hoje, se ele abre o livro, acha algo que quer reescrever.
O livro não teve nada a ver com querer reescrever a história do Brasil e falar dos oprimidos. Queria só fazer um romance caprichado e grosso para mostrar ao tal fulano que disse que ele escrevia "livrinho." (acho que foi um editor)
Para os personagens pensou em canalhas notórios e que se tivessem poder de vida e morte, o que poderiam fazer.
Em relação ao "Sorriso do lagarto" disse que tem medo do ser humano pilotando seu próprio destino. Não é otimista em relação a humanidade. Todos somos contraditórios e nossa ruindade tem prevalecido ao longo da história.
Sobre a "Casa dos budas ditosos" falou, e brincou com o fato que o livro agrada as mulheres e deixa os homens intranquilos.
Ofereceram a ele escolher o pecado. Não escolheu a preguiçaa por ser baiano. Escolheu luxúria e sobre a inspiração disse: "cheque gera inspiração, foi uma encomenda, assim que se geram as obras de arte" (a conversa sempre em tom de humor e risadas e esse foi um desses momentos).
Sobre seus personagens ele disse que eles tem vida própria. Quer que casem e eles não casam."Eles só fazem o que querem."
Foi divertido, leve, todos aplaudiram de pé. Típico espirituoso bom humor baiano brasileiro.
Telhados
Com James Ellroy
O livro que ele está lançando aqui é "Sangue Errante". Acontece depois dos assassinatos de Kennedy e Martin Luther King e antes de Watergate. É sobre homens ruins amando mulheres poderosas. Para ele o encontro entre um homem e uma mulher é o máximo e depois tudo é resto. A redenção vem através do amor. Os personagens são pessoas ruins, fazendo coisas más em nome do poder.
Ele é um showman. Disse que gosta mesmo de enterter a plateia. Fez várias piadas. Como a venda dos li vros para cinema ajudaram a pagar os divórcios dele. Não comenta se achou os filmes bons ou ruins, não liga. Não usa a internet nem computador. E diz que tenta "hold his curiosity in" para ficar no tempo dos livros dele. É vidrado em Beethoven. Tem bustos dele por toda a casa.
Quando perguntado o que ele achava de ter sido chamado de Dostoiévski americano responde: "I will take it but never read it, or Tolstoi or any russians, don't know anything about Russia", só alguns pianistas. Perguntaram também sobre a relação entre filmes noir e tragédias gregas com seus livros. Ele respondeu que já tinha namorado uma grega e que os gregos que conhecia eram donos de giro no Queens. Típico americano que nunca tinha vindo ao "third world e até que não é tao mal quanto ele imaginava".
Se diz cristão mas não vai a igreja. Tem um discurso moralista pois apesar de não julgar seus personagens eles fazem coisas ruins, se entregam aos pecados da carne, mas acabam indo para o inferno. A história é de sucesso e apesar daquela coisa típica americana (estava usando camisa florida), não sabia nada do resto do mundo...
Mas a sinceridade com que assumiu o que não conhece da literatura ou do mundo, sem rodeios me fez simpatizar com ele. Além disso tem uma história dark. O livro "Black Dhalia", foi uma maneira de expressar o que sentia pela morte da mãe através do que sentia pela morte da Elizabeth Short. A mãe também foi brutalmente assassinada num crime sem solução. Depois foi morar com o pai, um homem permissivo, se envolveu com drogas, etc... Beethoven é a figura masculina na vida dele. Seu ídolo desde os 12 anos. Disse que sempre quis ser 'novelist', queria uma identidade, os 'cool friends', 'cool car', dinheiro. Não boas razões para fazer arte. Até que deixou isso de lado, largou as drogas, uma história veio e só aí pode escrever.
Terminou recitando um poema para falar "why do I write" de Dylon Thomas.
Imagens e textos de Madame de Stael, correspondente em Paraty