René Vautier (1928-2015): o cineasta anticolonialista
Published5 Jan 2015
"Je filme ce que je vois, ce que je sais, ce qui est vrai." Frase de René Vautier, falecido ontem, o cineasta que assinou Afrique 50 (1950), um filme de denúncia da violência colonial, realizado à revelia da encomenda recebida do governo para um filme propagandístico sobre as 'grandezas' do colonialismo francês.
René Vautier, uma vida contada no Le Monde , no Figaro e no Libération, nasceu em Camaré (Finistère). Em 1943, com apenas 15 anos, integrou a Resistência Francesa, no contexto da II Guerra Mundial, em oposição à ocupação nazi. Pertenceu ao Partido Comunista Francês e foi um activo anticolonialista. Condenado a um ano de prisão, depois de Afrique 50, remeteu-se por um longo período à clandestinidade, e o filme só foi exibido em França nos anos 70. Realizou também Avoir Vingt Ans dans Les Aurées (1972), sobre um soldado francês que desertou por se opôr à execução sumária de um prisioneiro, Une Nation, Algérie (1954) e L'Algérie en Flammes (1958), entre muitos outros. Em 1967, é um dos nomes que se associa a Chris Marker no colectivo Medvedkine, num tempo em que fez greve de fome pela liberdade de expressão do cinema. Interessou-se também pela África do Sul do apartheid, tendo realizado os filmes Le glas (1964) e Frontline, com Olivier Tambo (1976). Os direitos das mulheres, as questões ambientais e a extrema direita francesa foram outros dos seus temas de eleição. Recebeu em 1998 o Grand Prix de la Société civile des Auteurs Multimédia (SCAM) pelo conjunto da sua obra e em 2000 foi distinguido com L'ordre de l'Hermine/Pontivy. O seu último filme, em colaboração com a filha Moïra Chappedelaine-Vautier, foi o documentário Histoires d'images, Images d'Histoire (2014).
Numa entrevista ao Le Monde, em 2007, falou sobre o seu percurso como cineasta e sobre o projecto Afrique 50.
Comment s'est fait Afrique 50 ?
Je suis allé là-bas en 1950 pour le compte de la Ligue de l'enseignement, qui avait demandé à un groupe de jeunes de rapporter en France des images sur la vie réelle des paysans africains en Afrique-Occidentale française, images destinées aux écoliers. On m'a très vite demandé d'arrêter de filmer en vertu d'un décret de Pierre Laval de 1934 (qui n'autorisait à filmer dans les colonies qu'en présence d'un représentant de l'administration).
J'ai donc continué clandestinement, d'abord avec l'aide de Raymond Vogel, qui n'était pas encore cinéaste à l'époque, mais géographe. Puis seul. On a essayé de me prendre la pellicule que j'avais faite entre Bamako, où j'avais été assigné à résidence, et Abidjan, où je devais rencontrer un des élus locaux : Felix Houphouët-Boigny (futur président de la Côte d'Ivoire de 1960 à 1993). Le périple a duré cinq mois.
Dans quelles conditions s'est produite la fabrication du film ?
J'ai pu récupérer illégalement dix-sept des cinquante bobines tournées qui avaient été saisies dans les locaux de la Ligue de l'enseignement. Je n'ai pas voulu en utiliser certaines, qui étaient très dures.
Le montage, la sonorisation du film et sa diffusion se sont faits dans la clandestinité. Bien que ne disposant pas de visa, Afrique 50 a dépassé le million de spectateurs en France dans les réseaux parallèles. C'est la généralisation de la vidéo qui en a permis la diffusion.
A entrevista completa em René Vautier : "Je filme ce que je vois, ce que je sais, ce qui est vrai"
A filmografia completa, no Arte TV