"Precisamos falar de imagens"
Published2 Jan 2015
Laura Erber é artista visual e escritora, professora de Teoria do Teatro e História da Arte. Autora de Ghérasim Luca (EdUERJ) e Esquilos de Pavlov (Alfaguara), reflecte, neste artigo, sobre a relação contemporânea que temos com as imagens. De que forma as tecnologias da informação afectaram o modo como olhamos? O olhar contemporâneo padece de excesso ou de falta? Qual a urgência de olhar? O que é olhar para a arte? Como é que esse olhar condiciona o nosso modo de estar no mundo?
A história recente do olhar é também a história do olho ameaçado pelo excesso de visível e pela falta de imagens. A fotografia eloquente, através da qual algo fala, e a fotografia como elemento comprobatório, muda e inibidora do verbo, são apenas dois dos possíveis modos de nos confrontarmos com o visível que nos rodeia. E, ainda assim, talvez não se trate ainda de imagens num sentido mais pleno ou radical, se aceitarmos que a existência de uma imagem depende não tanto de sua capacidade de afirmar o visível, mas de fazer com que o olhar hesite diante daquilo que vê. Daí a situação paradoxal na qual, mesmo em excesso, a imagem, como algo que se destaca do visível, continua a fazer falta.
Tomo como exemplo o Facebook, esse espaço de murmúrios e lamentos, sem entradas ou saídas, jardim de nossos narcisos em flor, pulsões escópicas cotidianas e compulsivos compartilhamentos de links em geral mais eficazes para a sobrevida da informação do que para seu metabolismo. Lugar também do desacordo, do desagravo, da gritaria, da citação e dos gatos. O que poderia ser – e às vezes é – um dispositivo de enlace crítico ou poético entre texto e imagem acaba reduzido ao cacoete da redundância ilustrativa ou da legendagem infinita, preferencialmente sob a forma lapidar do comentário breve. O layout dos murais verticais incentiva, ou pelo menos não impede, o tensionamento de imagens e textos.
O texto completo, no blogue do Instituto Moreira Salles