"Onze Poetas do Modernismo Hispano-Americano"
Published14 Jul 2014
O que foi o Modernismo hispano-americano? Como se manifestou na poesia? Quem foram as suas vozes?
O prefácio do livro "Onze Poetas Hispano-americanos" indica algumas respostas.
No caso do Modernismo hispânico, deve ser sublinhada a forte ligação à sociedade e a vontade de a transformar através da arte, ultrapassando a apatia, o materialismo, o consumismo, a imitação e o adorno pela literatura, pintura, escultura, arquitectura e artes decorativas. Pretende-se revolucionar espiritualmente os americanos - oura designação com que o público português não está familiarizado, englobando toda a população do continente, do Estreito de Bering ao Cabo de Hornos. Nas palavras de José Miguel Oviedo, o Modernismo "o processo mais rico, complexo e decisivo" das letras hispano-americanas à volta do qual giram duas épocas: a novecentista e a contemporânea. Sem hesitações, Oviedo considera que o Modernismo "é uma das pedras angulares em que se apoio o edifício da nossa literatura. Já Octavio Paz defende que este movimento constitui o romantismo da América Hispânica, na medida em que reagiu contra o positivismo, o empirismo e o vazio espiritual então criado, contrapondo a sensibilidade e o coração.
Isabel Araújo Branco, FCSH, UNL
E poemas, muitos poemas, com edição bilingue, acompanhados de breve biografia dos poetas.
A sombra dolorosa
de Julio Herrera y Reissig (Uruguai, 1875-1910)
Gemiam os rebanhos. Os caminhos
enchiam-se de lúgubres cortejos;
uma angústia de holocaustos velhos
afogava os silêncios campesinos.
Sob o mistério dos véus finos,
evocavas os símbolos hesitantes,
hierática, perdendo-te à distância,
com os teus húmidos olhos apagados.
Enquanto unidos por um mal irmão
falavam-te em suprema confidência
os mudos apertos da tua mão,
manchou a sonhadora transparência
da tarde infinita o comboio distante,
uivando de dor em direcção à ausência.