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"Janela Arcaica": revisitar Raduan Nassar

Published13 Dec 2014

Capa da edição portuguesa da Relógio d'Água, 1999

A Revista Cult relembra um autor e obra fundamentais da literatura brasileira: Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, publicada em 1975, poucos anos antes de o escritor abandonar a vida de escrita. O livro e a adaptação ao cinema, em 2001, pelo realizador Luiz Fernando Carvalho são considerados pelo colunista Renato Tardivo «obras indispensáveis sobre embates geracionais, relações de poder, grupos e seu potencial para a exclusão, amor e saudade».

Lavoura arcaica é uma prosa poética que flui de forma assombrosa. Nela, é possível que apenas uma palavra sirva de ponte entre tempos longínquos – lugares distintos. A narrativa, de atmosfera lírica e trágica, consiste na volta de um filho para casa, onde houve uma relação incestuosa com uma das irmãs, Ana. André, o narrador-personagem, costura os estilhaços que assolaram sua família em texto.

É o que o protagonista realiza, dessa vez nas condições de narrador e personagem do filme homônimo, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, ao voltar o olhar àquilo que viveu e costurar os flashes de memória em um fluxo mais ou menos contínuo. O filme, de 2001, foi fotografado por Walter Carvalho e integrou a mostra dedicada ao diretor de fotografia no início de outubro deste ano, no Cine Belas Artes, em São Paulo.

A fotografia é um dos pontos altos do filme, que se estende por quase três horas e desenvolve o potencial lírico do romance. “São membranas da memória. São imagens em camadas que ficam guardadas” – diz Walter Carvalho, em Nosso diário (documentário dirigido por Raquel Couto sobre as filmagens de Lavoura arcaica), ao se referir à luz que deveria incidir sobre a personagem Ana, irmã do protagonista com que ocorre a relação amorosa. Segundo ele, não poderia ser uma luz direta, chapada; mas, justamente por se tratar de “membranas da memória” de André, ela deveria ser rebatida, indireta.

Artigo completo, em Janela Arcaica