'In-Organic' (Marcela Levi) e 'Puto Gallo Conquistador' (Tamara Cubas) no Ipsilon
Published6 Sep 2014
É hoje o último dia para ver In-Organic (Marcela Levi), espectáculo distiguido com o prémio Klaus Viana e 'Puto Gallo Conquistador' (Tamara Cubas), coproduzido pelo Próximo Futuro, que teve estreia mundial em Montevideo e está agora em Lisboa. Tiago Bartomeu Costa escreveu sobre os espectáculos de dança do Próximo Futuro.
"Eu tenho uma estratégia que faz do que faço não um espectáculo mas um acontecimento. Quero estabelecer uma relação do eu-corpo com aqueles objectos. É um discurso por dentro que me está acontecendo na hora. Não defendo ou ataco a situação, sofro e sou atravessada por ela." O efeito é este: “a desterritorialização do meu trabalho”. O seu corpo, explica, não é brasileiro; não é um mapa fechado, estanque, concluído. No segundo momento de IN-ORGANIC, a imagem de uma mulher que segura o corpo do filho assassinado, fixada por um fotojornalista que com isso ganhou um prémio, é uma reacção a outro tipo de espectacularidade, que interliga a realidade com a ficção – e o fetichismo – de uma sociedade que acede à realidade através de filtros mediáticos.
Texto completo, em Mulher, Pérolas, Boi, Vaqueiro
A partir de textos e de ideias desenvolvidas pelo sociólogo português Boaventura Sousa Santos e pela investigadora brasileira Suely Rolnik, nomeadamente a sua tese acerca do "retorno do corpo-que-sabe”, a estrutura criada por Tamara Cubas observa um outro Uruguai, um país que se estendeu a partir da Colónia do Santíssimo Sacramento, fundada pelos portuguese em 1680, depois tomada pelos espanhóis, e que só após as lutas contra o Brasil, entre 1810 e 1928, conseguiu a sua independência. “A nossa estratégia foi elaborada a partir [das memórias] e, então, investigámos formas de descolonização, de desocidentalização”, explica. “Não se tratou de investigar sobre o Uruguai anterior à conquista colonial, mas de [procurar] um tipo de corpo despojado de pensamento racional que utiliza outras formas de acção, de relação e de conhecimento, entendidas como primitivas”, acrescenta.
Do artigo À procura do corpo primitivo