FLIP - 2º dia
Published9 Aug 2010
A última mesa do segundo dia foi dedicada ao Livro e teve como conferencistas os historiadores Peter Burke e Robert Darnton. Sendo dois prestigiados historiadores da cultura que muito têm trabalhado sobre a história do livro e a mutação da comunicação, a mesa tinha criado muitas expectativas. Superou as mais exigentes. Os dois intelectuais e professores combinaram uma clareza na comunicação com uma erudição e uma informação meticulosa, detalhada e precisa. E um dos aspectos mais fascinantes das duas intervenções foi que elas partiram da análise cultural do século XVIII e em especial da situação na corte francesa de Luis XIV e Luis XV. Foi possível vê-los discorrer, em especial Robert Darnton, sobre a redacção da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert, da invenção da classificação dos objectos e dos estudos feitos sobre a literatura paralela “alternativa" à Enciclopédia, representada por mais de 50.000 cartas de cortesãs e de autores de best sellers da época , de romances cor-de -rosa e de literatura pornográfica, conforme catalogação de Darnton. Referindo-se também a toda a empresa que foi necessário construir para publicar os livros, traficar os interditos, criar sistemas de difusão clandestinos, explicado num contexto substancialmente diferente do universo do Google, tornou a conferência fascinante. Peter Burke, mais centrado sobre o conflito ou a co-habitação entre meios de comunicação diferentes falou do livro, mas falou sobretudo do trabalho de recolha da cultura popular e do modo como tecnologia do registo a pode conservar, falou muito da leitura e afirmou não temer o perigo do Ipad e do Kindle. A única coisa sobre o qual é pessimista tem a ver coma possibilidade das gerações futuras perderem a capacidade de uma leitura lenta, a seu ver, esse sim o perigo da destruição da necessidade do livro.
A sessão terminou com uma critica muito forte de ambos os historiadores ao período de vigência dos direitos de autor (de setenta anos, na atualidade) considerando-o excessivo e tomados como uma forma de privatização da cultura (Robert Darnton). Segundo os autores, os direitos ao uso dos textos não deveriam ultrapassar os 40 anos porque os textos devem ser considerados como parte do bem estar público.